sábado, 13 de fevereiro de 2010

Eu e meu trabalho.

Primeiramente quero lhe dar boas vindas ao meu espaço e segundo, dizer que os nomes de todos os "personagens" que dividem o meu dia dia foram mudados pra preservação dos mesmos.
Comecei a escrever por que o médico disse que faria bem pra mim, tipo uma terapia sabe, colocar toda raiva pra fora.
Sou brasileira, carioca e fisicamente não tenho nada que chame muita atenção, tenho 31 anos de idade e 13 de trabalho "quase" escravo no comércio. Meu primeiro emprego foi aos 16 anos pra ajudar a família, como eu era de menor não tive carteira assinada, era uma tinturaria e eu conversava o dia inteiro com a dona do estabelecimento, uma senhora de 77 anos muito doce e simpática, aquilo que era emprego!
Meu segundo emprego foi num loja no bairro do méier, aquele bairro em que as pessoas andam como se estivessem na zona sul e pensam que cagam cheiroso!
Meus patrões eram pai e filho, um dizia uma coisa, o outro mandava outra, eu ficava a ponto de pirar!
Trabalhei lá 3 anos, até o filho do patrão que também era meu patrão começar com umas loucuras que sonhou comigo e queria realizar o sonho dele. Lógico que não topei. Resumindo essa história (porque odeio lembrar disso), acabei na rua.
Foi um período difícil.
Depois de 8 meses no "perrengue" consegui finalmente um emprego, onde estou até hoje.
Comecei como vendedora; depois vendedora e estoquista; depois vendedora, estoquista e repositora; logo vendedora, estoquista, repositora e chefe de setor; ai consegui alcançar mais um cargo vendedora, estoquista, repositora, chefe de setor e gerente; Hoje sou vendedora, estoquista, repositora, chefe de setor, gerente e caixa! Não se iluda, no comércio é assim, você rala pra caraca e o salário continua não sendo grande coisa. Mas no pais em que vivemos é uma benção estar empregada. Mas confesso que adoraria ficar em casa lavando, passando e cozinhando.
Bem estamos no mês de fevereiro quando quase tudo que ouvimos se referem ao carnaval.
Pra quem gosta e pra quem sabe "pular" o carnaval é legal, o que não é legal (pra mim) é que o sexo é liberal, até quem não é puta neste dia costuma liberar geral! Não estou generalizando, ok?
Meu dia esta apenas começando, meu marido está de férias e tem me levado todos os dias de carro pro meu trabalho, comento com ele no caminho que não sei como vai ser quando ele voltar a trabalhar, terei novamente que acordar mais cedo pra pegar um onibus que nunca tem horário certo pra passar.
Embora eu pareça uma mulher independente ainda se quer sei dirigir.
O calor me chama pra praia, mas tenho que encarar mais um dia na loja, chegando num lugar chamado madureira em que teimam em chamar de bairro, pra mim nada mais justo que chamá-lo de "terra de malboro" ou "terra sem lei"
Acho que é dos muitos lugares do Rio de Janeiro em que você encontra uma rua em que chamo de "pomar das crianças que ainda não nasceram", já imaginam porque né? A putaria corre solta ali a noite. Quer fazer uma inseminação artificial? sente no chão da rua em que eu trabalho!
Bem, voltando ao assunto, estou eu chegando ao trabalho e vendo aquela multidão de gente circulando pelas ruas, e ainda são 9:00 da manhã! Vejo aquele povo de cara feia, todo mundo parere estar muito mau humorado hoje, lógicamente que existem excessões.
Saindo do carro ja na porta da loja, na hora que meu marido vai estacionar surge o "lombriga", ele é um policial marrento magrinho e cumprido que todos os dias multam os carros por aqui, ele deve ganhar muito bem porque ele faz isso com muita seriedade e não aceita "conversa", e cá pra nós, a gente sabe que policial sempre chama pro "diálogo", mas ele não.
Então meu marido faz a melhor coisa, se manda e vai estacionar em outro lugar.
Ao entrar na loja parece que estou começando o dia anterior novamente, se não fosse pelo fato de estar naqueles dias. E eu me torno um monstro nesses dias!
Mal chego ao setor em que trabalho... problemas começam a chegar.
Uma cidadã se aproxima do caixa e me pede para verificar sua fatura do cartão da loja. abro o sistema e vejo que consta um vencimento em atraso do mês de janeiro, repito, estamos em fevereiro numa sexta feira e faltam apenas um dia para um feriadão de carnaval, eu não irei viajar e na verdade não quero nem sair de casa. Trabalhar no comércio gerou tipo uma de "fobia de lugares cheios", mas no meu caso sinto raiva, vontade de gritar mais alto e mandar todo mundo calar a boca!
Mas voltemos a cidadã, que chegou com cara de mau amada com os cabelos que pareciam estar brigando entre si, porém bem vestida.
- Pode ver se esse débito ainda está em aberto? Disse ela sem se quer me dar um bom dia, deixando no balcão quase que jogando o comprovante manual de pagamento.
- Claro! Olhei pra ela com vontade de dizer "bom dia senhora, a sua noite foi boa? Ops desculpe com certeza não", mas dou um falso sorriso que não é correspondido.
- Senhora consta um débito do mês de Janeiro de R$17,00.
- Como assim? não esta vendo o comprovante de pagamento? Disse alto e cospindo como um cão raivoso.
Pacientemente e calmamente respondi. - Sim senhora, mas o seu comprovante é de um débito de R$ 20,00 que já foi dada a baixa, mas o que consta agora em aberto e em atraso é um de R$ 17,00 que com juros fica R$ 18,90.
Mas ela não aceitou, não queria pagar o diabo do débito!
Uma coisa eu gosto muito de fazer é mostrar pro cliente que nem sempre ele tem razão!
Então puxei um histórico de dívidas dela e "BINGO", provei que o débito era outro e ela teve que pagar, isso é gratificante cara!
O dia seguiu tranquilo, a loja sempre fica vazia, até você resolver realmente trabalhar.
Se os patrões e gerentes quizerem ver a loja cheia, mande seus funcionários trabalharem, porque é nessas horas que os clientes chegam em massa, não muito pra comprar, mais para atrapalhar... pelo menos dão um movimento na loja e fazem as horas passarem mais rápido.
Alguns fatos mesmo com anos no comércio ainda não aprendi a suportar.
Exemplos...
Você esta atrás do balcão da loja, ou varrendo, ou com um espanador na mão... ai vem alguém com aquela deliciosa pergunta: "você trabalha aqui?"
Escolha a resposta abaixo.

1) Não, sou cliente como você mas vi que os funcionários precisavam de uma mãozinha e se você quizer pode ajudar também.

2) Não!

3) Sim, porém estou ocupada como você pode ver, e não poderei atendê-lo.

4) Sim... em que posso ajudar?

Usamos a quarta opção, mas tenho certeza que esses clientes que perguntam isso sabem muito bem o que estão fazendo, sim, eles sabem, fazem de propósito!

Outra:
Você oferece ajuda e ele responde com um sorriso amarelo. "Não, obrigado estou só olhando!"
Se só olhasse mesmo e fosse embora... mas não, o mesmo fica horas na loja, começa a lhe perguntar sobre tudo e no final não leva nada.
Quando se perguntasse, deveriam responder assim: "Olha eu só vim mesmo pra perturbar hoje porque não tinha oque fazer em casa."
Por favor, façam como eu nos meus momentos de consumidora, diga que está olhando e só olhe mesmo entenderam?
Poxa, será que esse povo não sabe que a gente já chega ao trabalho desejando a hora de sair, e que trabalhamos porque precisamos?
Quer ver algo que me deixa mais injuriada ainda? É quando alguns clientes ligam perguntando a que horas a loja vai fechar, sabe porque eles perguntam?
Porque querem chegar na loja faltando 5 minutos pro término do expediente e fazer você acumular hora extra pra aquela folga que nunca chega!
PORQUE ELES FAZEM ISSO?